Imagens que se ignoram

Acabei mais uma ronda por locais onde pessoas pernoitam na rua.

Ao invés de falar sobre aquilo que vejo, falo de como faço.
Perguntam-me se pergunto às pessoas se as posso fotografar.

– Não. Isso seria catastrófico.

Em primeira instância, não quero revelar a identidade de ninguém. Estas pessoas já estão suficientemente fragilizadas. Não é meu objectivo, usar a sua identidade para qualquer fim. Apenas posso dizer que são pessoas reais e não há qualquer ensaio ou encenação.
Não quero incomodar o descanso deles, tendo em conta que a janela temporal em que eles conseguem efectivamente descansar é relativamente pequena.
Pela minha experiência no terreno, só a partir das 02:00 é que começa a haver algum sossego nestas ruas. Perto das 05:00 começa a haver movimentação. Há pessoas que vão trabalhar cedo e por essa hora já há quem esteja a aguardar por transporte. O comércio local também começa a activar a essa hora.

Resumidamente, a minha presença não se sente.
Sou silencioso, cauteloso e ouso aproximar-me o suficiente para incomodar quem irá olhar para o que se ignora.